Armadeira

Espécie de aracnídeo

Phoneutria (do grego φονεύτρια, latinizado: phoneútria, "assassina") é um gênero de aranhas conhecidas pelos nomes comuns de armadeira, aranha-macaco ou aranha-de-bananeira, pertencentes à família dos ctenídeos. O nome comum armadeira vem da sua atitude invariável de ataque, com as patas dianteiras erguidas. São encontradas no Brasil, Paraguai, norte da Argentina e Uruguai, onde teria sido introduzida.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaPhoneutria
aranha-armadeira, armadeira
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Arachnida
Ordem: Araneae
Família: Ctenidae
Género: Phoneutria
Perty, 1833
Espécies
P. bahiensis
P. boliviensis
P. eickstedtae
P. fera
P. keyserlingi
P. nigriventer
P. pertyi
P. reidyi

Características

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Apresenta patas grandes, com 13 a 15 cm de comprimento, com um tamanho corporal de 1,7 a 4,8 cm. A espécie tem a reputação de se esconder nos cachos de bananas, o que deu origem ao nome comum de aranha-bananeira (em inglês: banana spider). Esse comportamento, aliado ao seu tamanho (ocupa toda a palma de uma mão), grandes quelíceras, autênticos colmilhos, de coloração avermelhado-pardo, dois grandes olhos frontais e dois olhos menores de cada lado, a que se juntam patas grossas e peludas, fazem com que esta aranha, que é muito veloz, seja muito temida nos navios de transporte de bananas, nas plantações de bananas, nos portos tropicais. São muito agressivas se perturbadas e produzem um veneno cujo componente neurotóxico é tão potente que apenas 0,006 mg é suficiente para matar um rato de 20 gramas, (6 μg) por via intravenosa e de 134 μg por via subcutânea, comparado com 110 μg e 200 μg respectivamente para o veneno de Latrodectus mactans (Viúva Negra). Frequentemente entram em habitações humanas à procura de alimento, parceiros sexuais ou mesmo abrigo, escondendo-se em roupas e sapatos.

Acidentes

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Dos 128.932 casos de acidentes com aranhas durante 2009 a 2013, apenas 59.700 (46,3%) tiveram o gênero de aranha causador do envenenamento registrado (Tabelas 6 e 7). A maioria dos casos correspondeu ao loxoscelismo (Aranha Marrom) com 66,3%, seguido pelo foneutrismo (Armadeira) com 32,8% e latrodectismo (Viuva Negra ) com 0,9% do total. Foram atribuídos durante o período estudado, 66 óbitos por envenenamentos por aranhas e, destes, apenas 24 tiveram o gênero de aranha causador do acidente identificado. A maioria dos óbitos (18) foi atribuída ao gênero Loxosceles (Letalidade de 0,04%), seguido por Phoneutria com 5 óbitos (0,02%) e Latrodectus com 1 óbito (0,17%).

Veneno

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A peçonha da Phoneutria é composta por polipeptídeos, além de histamina e serotonina. Sua ação é neurotóxica e cardiotóxica. A ação neurotóxica ocorre no SNC, mais precisamente nos canais de sódio, provocando despolarizações nas terminações nervosas, (sinapses) sensitivas e motoras, fibras musculares e no sistema nervoso autônomo, induzindo a liberação de neurotransmissores (principalmente a acetilcolina e catecolaminas.[1]). A ação cardiotóxica interfere na atividade contrátil do músculo estriado cardíaco, ativação do sistema de calicreína tissular, ativação de fibras sensoriais e esvaziamento gástrico. A picada da Phoneutria é relativamente letal para ratos.

Além de causar dor intensa, o veneno da aranha pode também causar priapismo em humanos. Ereções resultantes da picada são incômodas, podem durar várias horas e causar impotência. O componente do veneno (Tx2-6) está sendo estudado para uso em tratamentos de disfunção erétil.[2][3][4]

É considerada a espécie de aranha mais peçonhenta e uma das mais agressivas do mundo[5]

Sintomatologia

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Os pontos de inoculação sobre a pele são vistos acompanhados de inchaço, vermelhidão e sudorese local. A dor é queixa comum, pode ser local ou irradiada, tem intensidade variada e é acompanhada de parestesias (formigamento). Dependendo do estado da pessoa, além da dor, os sintomas mais comuns são taquicardia com alterações no eletrocardiograma, hipertensão arterial, sudorese com visão turva e vômitos ocasionais. O hemograma pode apresentar leucocitose com neutrofilia e hiperglicemia.[6]

O quadro em crianças com menos de seis anos e idosos muito debilitados pode evoluir para edema pulmonar e choque representando um risco não desprezível de morte.[7]

Tratamento

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Apesar da alta toxicidade da peçonha da armadeira, a absoluta maioria dos casos registrados são considerados leves e de prognóstico benéfico. Nestes casos o tratamento é sintomático resumindo-se a analgésicos via oral e anestésico local xilocaína e, em caso de ânsia de vômito, um antiemético como Plasil (Metoclopramida). Nos moderados que apresentam sudorese acompanhada de leve taquicardia e hipertensão, o tratamento sintomático é acompanhado do específico com soro antiaracnídeo. Nos casos graves que apresentam grandes alterações na pressão arterial com taquicardia/bradicardia e sudorese profusa, uma dose maciça de soro antiaracnídeo juntamente com cuidados médicos intensivos tornam-se necessários.[8]

Espécies

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Fêmea de P. cf nigriventer (a espécie é venenosa e o seu manuseamento constitui um risco significativo).[9]

O género inclui as seguintes espécies:[10]

Alimentação

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Alimenta-se de insetos e pequenas lagartixas.[12]

Ver também

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Referências

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  1. Cartillo, Juan C. Quintana; Patiño, Rafael Otero: Envenenamiento aracnídico em las Américas Arquivado em 5 de janeiro de 2009, no Wayback Machine. – Revista MEDUNAB. Vol. 5, número 13 - Mayo de 2002.
  2. "Venom From the Banana Spider Could Be the New Viagra". National Geographic, September 10, 2012. Accessed June 11, 2013.
  3. Natural Viagra: Spider bite causes prolonged erection. Live Science, April 30, 2007. Accessed March 30, 2012.
  4. Pat Hagan (29 de agosto de 2012). «Venom from world's deadliest spider could cure erectile dysfunction within 20 minutes | Mail Online». Dailymail.co.uk. Consultado em 16 de outubro de 2012 
  5. Dale, Jay (2011). Deadly and Incredible Animals Top 10 Minibeasts. Australia: Macmillian Library. p. 24. ISBN 978-1-4202-8246-7 
  6. CUPO P; AZEVEDO-MARQUES MM & HERING SE: Acidentes por animais peçonhentos: Escorpiões e aranhas Arquivado em 11 de junho de 2007, no Wayback Machine. – Medicina, Ribeirão Preto, 36: 490-497, abr./dez. 2003.
  7. Cicco, Lúcia H. Salveti de: Armadeira ou Aranha da banana Arquivado em 29 de maio de 2008, no Wayback Machine. – Animais Perigosos.
  8. Ministério da Saúde: Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos – 2ª ed. - Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001. ISBN 85-7346-014-8
  9. Wandering Spiders of the Amazon (2013). Phoneutria - toxicity. Staatliches Museum für Naturkunde Karlsruhe (State Museum of Natural History Karlsruhe). Retrieved 23 February 2013.
  10. The world spider catalog, version 12.5. American Museum of Natural History. Accessed March 30, 2012.
  11. Silva, B. J. F., & Overal, W. L. (1999). Ocorrência de Phoneutria fera (Araneae: Ctenidae) no Estado do Pará, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, série Zoologia, 15(2), 135-141.
  12. «Aranha-armadeira» 

Ligações externas

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